Com o dinheiro economizado ao longo de 30 anos, a diarista Dalva pôde contratar o escritório Terra e Tuma Arquitetos Associados
Originalmente publicado pelo portal Arquitetura & Construção
Por Texto Amanda Sequin | Produção Deborah Apsan
12 maio 2017, 13h26 - Publicado em 9 out 2015, 10h30
Dona Dalva, 74 anos, é empregada doméstica. Sim, ela acorda às 6h, se ajeita e aperta-se no transporte público para atravessar a cidade e chegar ao trabalho. Faz tudo agradecendo por ainda dar conta da profissão que exerce há mais ou menos 50 anos, quando saiu de Brumado, BA, em busca de uma vida melhor. “Meu pai montava nossa cama com madeira e folha de coqueiro. Lembro-me daquela época e até pergunto: isso tudo é de verdade mesmo?”, reflete a diarista, que sempre se esforçou para guardar um pouco de cada salário. Vinte anos depois, a primeira conquista: adquiriu um cantinho só para ela e Marcelo, seu único filho, e saiu da casa dos patrões. A economia sempre continuou firme e forte no final do mês, ao contrário da casinha. Em 2011, ela estava em condições precárias, a ponto de parte do teto ceder sobre a cama.
“Marcelo já tinha nos procurado, dizendo que a mãe havia juntado uma quantia e gostaria de construir no mesmo terreno ou comprar um apartamento. Porém, quando o acidente aconteceu, ele resolveu tirá-la de lá o quanto antes”, conta Pedro Tuma, do escritório Terra e Tuma Arquitetos Associados. R$ 150 mil era o valor disponível. Pouco para arrematar um imóvel pronto nos critérios paulistanos, mas os arquitetos, com experiências anteriores em construções econômicas, disseram ser possível demolir tudo e elaborar uma nova residência rapidamente (afinal, a família pagaria aluguel durante o processo).
“Desenhamos uma obra muito simples de executar”, explica Pedro. O térreo concentra as principais áreas de uso da moradora, e o primeiro andar, apenas o quarto do filho e a horta. Os 95 m² se estruturam em lajes pré-moldadas e blocos de concreto aparentes. Foram quatro meses para fixar os alicerces e outros seis de finalização até que, em maio deste ano, dona Dalva mudou-se de volta, feliz com sua moradia. Já faz planos: quer armários planejados e, quem sabe, deixar o piso “acabadinho”, como ela se acostumou a ver por aí. “Jogo na loteria, mas, se não der, não tem problema. A gente, tendo fé, vence.”